Resposta:
1. Como surgiu a confissão dos pecados…
Durante a sua vida terrena, o Senhor Jesus afirmou com clareza o seu poder de perdoar os pecados. Tais afirmações podiam acontecer num contexto de cura, como se pode ler em Marcos 2, 1-11, ou num contexto em que era manifesto o arrependimento do pecador (ver, por exemplo, Lucas 7, 36-48). Note-se que, em geral, os circunstantes se escandalizavam com as palavras de Jesus, quando Ele perdoava os pecados, dizendo, justamente, que perdoar os pecados é próprio de Deus – e, portanto, Jesus, ao afirmar o seu poder de perdoar os pecados estava a afirmar, indiretamente, a sua condição divina.
Depois da sua ressurreição, Jesus apareceu várias vezes aos discípulos. Numa dessas ocasiões, disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos» (João 20, 22-23). Deste modo, ao dom do Espírito Santo concedido à Igreja é associado o poder de perdoar os pecados, concedido à mesma Igreja.
A Igreja Católica entende, por isso, que o perdão dos pecados faz parte da sua missão. E considera que isso acontece em contexto sacramental, ou seja, durante a celebração de um ato que torna presente e atuante a graça salvadora de Cristo ressuscitado. Esse ato sacramental é chamado confissão dos pecados ou reconciliação. A forma como tal celebração se faz variou ao longo dos séculos, até se fixar, depois do Concílio de Trento, no modo atual: confissão individual a um presbítero (sacerdote ou bispo). Em circunstâncias extraordinárias, pode fazer-se de outras formas, mas aqui tratamos do modo normal de celebrar a confissão.
2. Para quê a Confissão?
Como o nome indica, trata-se de confessar, admitir e assumir os próprios pecados. Isto implica que a pessoa tenha consciência de ser pecadora, ou seja, de falhar no essencial: o amor a Deus e ao próximo. Trata-se de algo que os nossos contemporâneos têm cada vez maior dificuldade em admitir. No fundo, todos sabemos que não somos perfeitos em nada, muito menos no amor. E que, com frequência, agimos deliberadamente de modos que negam o amor. Mas uma coisa é saber, outra mais difícil é admitir e outra, ainda mais difícil, aceitar a necessidade de o dizer a alguém (a Deus, através do presbítero) e de pedir perdão por isso. Este é o problema de fundo que torna a confissão cada vez menos aceitável aos olhos dos nossos contemporâneos.
3. Porquê confessar?
Ao contrário de outras Igrejas cristãs, a Igreja Católica mantém firmemente a necessidade de os fiéis celebrarem o sacramento da confissão ou reconciliação para receberem de Deus, através do sacerdote, o perdão dos pecados. As razões são muitas, mas podem resumir-se do seguinte modo: o pecado causa dano ao pecador, aos outros e à sua relação com Deus. Não se esqueça o que foi dito antes: o pecado é uma falha no amor a Deus e ao próximo. Falhar no amor – dar lugar ao ódio, à divisão, à suspeita, à maledicência, à indiferença perante os outros… – é falhar no essencial. E esta falha prejudica, em primeiro lugar, o próprio pecador, porque o torna menos humano e, logo, menos imagem de Deus. Prejudica também os outros, de modo direto ou indireto (este facto não precisa de ser explicado, é evidente). Prejudica ainda a relação com Deus, pois sendo Deus Amor, tudo o que não é amor ou põe em causa o amor põe em causa essa relação.
A confissão tem como objetivo repor o amor onde ele falhou ou foi posto em causa. E isso só pode ser realizado no contexto de uma relação, neste caso, da relação com Deus – não uma relação mais ou menos imaginária, mas muito concreta, mediante a presença do sacerdote, a qual dá solidez e confirma algo que, deixado apenas à consciência de cada um, poderia não passar de um devaneio mais ou menos mórbido, sem nenhuma abertura ao outro.
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