Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

Solenidade do Corpo de Deus: Instituição da Festa

No final do século XIII, surgiu em Liège, Bélgica, um Movimento Eucarístico cujo centro foi a Abadia de Cornillon, fundada em 11245 pelo Bispo Alberto de Liège. Este movimento deu origem a vários costumes eucarísticos, como por exemplo a Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento, o uso dos sinos durante a elevação na missa e a festa do Corpo de Cristo.

Foi nesta Abadia que Santa Juliana teve uma grande veneração ao Santíssimo Sacramento. E sempre esperou que se fizesse uma festa especial em sua honra. Este desejo diz-se ter-se a intensificado por uma visão que teve da Igreja sob o aparecimento da lua cheia com uma mancha negra, que significava a ausência dessa solenidade.

Tiago Pantaléon de Troyes, que mais tarde viria a ser o Papa Urbano IV, que em 11 de Agosto de 1264 proclamou oficialmente a solenidade desta festa pela Bula “Transiturus”. No entanto a festa realizou-se pela primeira vez dentro da Igreja de Saint Martin de Liège, com a finalidade de proclamar a gratidão a Deus pelo benefício da Eucaristia, em 1230. Mas em 1247, deu-se a primeira procissão eucarística pelas ruas de Liège, já como a festa da Diocese. Mais tarde, esta viria a ser a festa nacional da Bélgica. Nos seus primórdios, a Bula “Transiturus” teve pouca repercussão porque o Papa morreu pouco tempo depois de ter declarado esta Bula.

A igreja, sentiu a necessidade de realçar a presença real do “Cristo todo”, no pão consagrado.

Esta necessidade, aliava-se ao desejo do homem medieval de “contemplar” as coisas. Por esta época surgiu o costume da elevação da hóstia a seguir da consagração. Germinava uma controversa piedade Eucarística, chegando ao ponto de as pessoas irem à igreja somente para ver a hóstia do que para participar na Eucaristia.

Esta festa é para todos os Católicos, o momento de comemorar a real presença de Jesus Cristo no Sacramento da Eucaristia, pela mudança da substância do pão e vinho em corpo e sangue, a transubstânciação.

A Eucaristia, é um dos sete sacramentos e foi instituída na Última Ceia, quando Jesus disse: “Este é o meu Corpo… isto é o meu Sangue… fazei isto em memória de mim”. A realização desta belíssima festa é feita na quinta-feira a seguir ao domingo da Santíssima Trindade, devido ao facto de a Eucaristia ter sido celebrada pela primeira vez na Quinta-feira Santa.

No próximo ano, como o feriado vai ser suprimido, pelo menos até 2017, esta solenidade vai ser celebrado no domingo seguinte à Santíssima Trindade.

Santa Juliana de Mont Cornillon

Santa Juliana de Mont Cornillon, nasceu em Retines perto de Liège, Bélgica em 1193 e participava na paróquia de Saint Martin. Ficou órfã muito pequena e foi educada pelas freiras Agostinas em Mont Cornillon. Com 17 anos entrou para o convento das agostinianas em Mont Cornillon. Com a mesma idade começou a ter “visões” que retratavam um disco lunar dentro do qual havia uma parte escura. Isto foi interpretado como sendo uma ausência de uma festa eucarística no calendário litúrgico para agradecer o sacramento da Eucaristia. Com 38 anos confidenciou esse segredo ao arcediago de Liège, Tiago Pantaléon de Troyes, que 31 anos depois será o Papa Urbano IV (1261-1264), e tornará mundial a Festa de Corpus Christi, pouco antes de morrer. Juliana de Mont Cornillon. Morreu a 5 de Abril de 1258, na casa das monjas Cistercienses em Fosses e foi enterrada em Villiers

Santa Juliana de Mont Cornillon
Santa Juliana de Mont Cornillon

Fortificação da Festa

Além da Bula do Papa Urbano IV, muitos outros chefes da igreja Católica tiveram a preocupação de reforçar a importância desta Festa. O Papa Clemente V tomou o assunto em suas mãos e no concilio geral de Viena, em 1311, ordenou mais uma vez a adopção desta festa. João XXII, em 1317, promulgou uma recompilação de leis, fazendo assim que a festa fosse estendida a toda a Igreja. Mais uma vez, o concilio de Trento, declara que muito religiosamente foi introduzida na Igreja de Deus o costume, que todos os anos, determinado dia festivo, seja celebrado este excelso e venerável sacramento com singular veneração e solenidade; e que seja levado em procissão pelas ruas e lugares públicos. Contudo, os cristãos expressam a sua gratidão e memória por tão inefável e verdadeiramente divino beneficio, pelo qual se faz novamente presente a vitória e triunfo sobre a morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Para que não haja dúvidas…

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O Papa Urbano IV, naquela época, tinha a corte em Orvieto, um pouco ao norte Roma. Muito perto desta localidade está Bolsena, onde em 1263 ou 1264 aconteceu o Milagre de Bolsena: um sacerdote que celebrava a Santa Missa teve dúvidas de que a Consagração fosse algo real. No momento de partir a Sagrada Hóstia, viu sair dela sangue do qual se foi empapando em seguida o corporal. A venerada relíquia foi levada em procissão a Orvieto em 19 Junho de 1264. Ainda hoje se conserva o corporal onde se apoiou o cálice e a patena durante a missa onde o sangue foi derramado. Também é visível na igreja de Bolsena, a pedra do Altar manchada com o mesmo Sangue.

Código do Direito Canónico

Em 1983, o novo Código do Direito Canónico – cânon 944, §1- mantém a obrigação de se manifestar “o testemunho público de veneração para com a Santíssima Eucaristia” e “onde for possível, que haja procissão pelas vias públicas”, mas os Bispos têm de escolher a melhor maneira de fazer, garantindo a participação do povo e a dignidade da manifestação.

Procissão dos Enfermos

Esta procissão, era realizada sempre que o sacerdote iria levar aos doentes a Sagrada comunhão. O sacerdote iria em procissão até á residência do enfermo, e ao passar na rua todos saíam de suas casas para adorar o Corpo de Cristo que vinha escondido dentro da pixíde que o sacerdote transportava em suas mãos. Era mais uma maneira de venerar Cristo presente na Hóstia consagrada.

Devido à possibilidade de qualquer Ministro Extraordinário da Comunhão, ter permissão para levar a Comunhão aos doentes, esta festa fora literalmente abolida.


Reflexão

Esta Solenidade do Santíssimo corpo e sangue de Cristo é sempre uma oportunidade para reflectimos sobre as nossas comunidades, tantas vezes dividida apesar da Eucaristia que celebra, e apesar de comer do mesmo pão da unidade. E num tempo em que somos testemunhas de tantas guerras violências, ódios, oposições e divisões que incomodam a paz, roubam a felicidade e lançam sombras, medos e nuvens no horizonte de todos, vamos perdendo a autoridade e porventura a coragem para apontar a Eucaristia com sinal, sacramento e instrumento de unidade, de comunhão e de felicidade entre todos os Homens.

A coerência de amor divino convida-nos à coerência da nossa fé. No pão consagrado e no cálice abençoado, reconhecemos a presença viva do próprio Cristo, que nos envolve no seu amor e nos fortalece na Sua comunhão

Na verdade, a Eucaristia é também expressão do Amor misericordioso de Deus. Não é um prémio para distinguir quem quer que seja ou para fomentar presunção, mas é um dom oferecido aos Homens pecadores que somos, não para ficarmos no pecado ou na indiferença, mas para nos libertarmos, para sermos verdadeiramente livres. Sacramento da unidade e da vontade de Deus em Cristo, sinal da unidade que desejamos e sinal da unidade de que tanto necessitamos, a Eucaristia é também estímulo para a vida, expressão da Fé cristã, fonte de devoção e piedade que alimenta, anima e orienta no sentido e vontade de sermos, de vimos a ser, o que ainda não somos mas desejamos ser.

Plácido José Marques Santos

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