Onde é que Ele está?
Is 61, 1-2.10-11; 1Tes 5, 16-24; Jo 1, 6-8.19-28
1. “No meio de vós está alguém que não conheceis”, diz-nos sem rodeios João Batista. Hoje como ontem. Cristo anda no meio de nós e não nos apercebemos da sua mística presença. Onde poderemos encontrá-lo? Tocamo-lo nos pobres, escutamo-lo na sua Palavra, vive connosco na Igreja, recebemo-lo nos sacramentos. “Eu ficarei convosco todos os dias até ao fim dos tempos”. Como é que ainda não o descobrimos?
2. Talvez porque a nossa fé não chega lá. Porque não sabemos descobrir o seu rosto em cada criatura. Porque não ouvimos os seus apelos na pessoa necessitada. Porque não desvendamos a sua presença na comunidade humana ou religiosa a que pertencemos.
E, como consequência, não sabemos viver na alegria que a sua presença é capaz de gerar no nosso coração. Não há alegria maior do que viver na presença permanente de um amigo que enche o nosso coração. Cristo Jesus é a plenitude da amizade de Deus em nós. E esta certeza de sermos queridos e amados por Deus enche-nos de uma alegria indizível, porque é a marca inconfundível do discípulo de Jesus. É o rosto da nossa fé e o traje da nossa esperança. Transmite-se em gestos de vida em comunhão, na missão quotidiana que Ele nos confiou. Apregoa-o São Paulo no texto que a liturgia deste 3º Domingo de Advento nos apresenta: “Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias”. Em todas as circunstâncias. Mesmo naquelas que estamos a viver por causa da pandemia que ainda não parou. É um programa de vida.
3. “Anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje nasceu-vos um Salvador” (Lc 2, 10). É a grande mensagem do Natal de Jesus que mais uma vez vai chegar até nós. O homem de hoje precisa de uma notícia como esta, que alarga os pulmões e dilata o coração: a salvação é-nos oferecida gratuitamente e por amor. Deus, o Emanuel, veio viver no meio de nós para nos oferecer a plenitude da sua Alegria, capaz de afrontar toda e qualquer situação, inclusive a situação pandémica que estamos a viver. Não veio só para trazer um pouco de consolação a este “vale de lágrimas”. Veio para nos trazer a sua Alegria, a sua própria Vida, cujo segredo é o amor: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Se o mundo morre por falta de amor é porque lhe falta essa alegria de viver que só Jesus lhe pode dar. É porque nós cristãos não nos apresentamos com o rosto de ressuscitados, mas vivemos oprimidos, cansados e tristes, como se Jesus não tivesse vindo para nos manifestar o seu Amor imenso através da sua morte e ressurreição. Porque é que havemos de caminhar de rosto triste e ar sombrio?
4. Deus ama quem dá com alegria. Um coração alegre é o resultado normal de um coração apostólico. A alegria é uma rede de amor com a qual podemos conquistar as pessoas. Se irradio alegria, o meu rosto alegre prega sem pregar. Falarão as minhas ações feitas com alegria e o Pai do Céu será glorificado. “Semeia a alegria no coração do teu irmão e vê-la-ás florir no teu”. Viver para os outros é o único modo de sermos felizes: “o amor não precisa de ser narrado: deve ser vivido na alegria e então espalha-se por si mesmo” (Gandhi). Conta para o nosso Deus tudo o que realizarmos pelos outros com alegria, procurando torná-los felizes já nesta terra. O que conta para Deus é o coração do homem, a sua capacidade de amar, a sua luta pela justiça, a sua abertura à universalidade. O que importa é semear grãos de esperança e de alegria. Semear o nosso sorriso, as nossas energias, a nossa coragem, o nosso entusiasmo. E depois esperar com confiança, porque algo de novo vai germinar.
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