Consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria

Santa Sé divulga texto do Ato de Consagração de 25 de março, que vai ligar o Vaticano e Fátima


O Papa vai rezar esta sexta-feira para que a humanidade seja preservada da “ameaça nuclear”, durante o Ato de Consagração a que vai presidir no Vaticano, em ligação a Fátima, invocando a paz, particularmente na Ucrânia e Rússia.

A cerimónia na Basílica de São Pedro tem início marcado para as 17h00 (menos uma em Lisboa), durante a tradicional celebração penitencial de Quaresma a que o Papa preside, incluindo um momento de confissões.

A consagração vai decorrer, simultaneamente, na Cova da Iria, onde o cardeal Konrad Krajewski, esmoler pontifício, vai presidir à recitação do Rosário, na Capelinha das Aparições, a partir das 16h00, na qualidade de enviado do Papa, com mistérios em russo e ucraniano.

Testemunho dos videntes de Fátima

O testemunho dos videntes de Fátima regista que, na aparição de 13 de julho de 1917, Nossa Senhora lhes disse: “Para impedir a guerra virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos Primeiros Sábados”.

“Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”, registava Irmã Lúcia, falecida em 2005, nas suas ‘Memórias’.

A 25 de março de 1984, o Papa São João Paulo II presidiu à consagração do mundo ao coração de Maria, no Vaticano, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, venerada na Capelinha das Aparições, a mesma que, em 2000, colocou entre os bispos de todo o mundo, consagrando-lhe o terceiro milénio.

Papa Francisco em Fátima (capelinha)

Ato de Consagração ao Imaculado Coração de Maria

Texto Oficial da Consagração da Rússia e da Ucrânia e da Humanidade ao Imaculado Coração de Maria, 25 de março de 2022:


Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe,
recorremos a Vós nesta hora de tribulação.
Vós sois Mãe, amais-nos e conheceis-nos:
de quanto temos no coração,
nada Vos é oculto.

Mãe de misericórdia,
muitas vezes experimentamos
a vossa ternura providente,
a vossa presença que faz voltar a paz,
porque sempre nos guiais para Jesus, Príncipe da paz.

Mas perdemos o caminho da paz.
Esquecemos a lição
das tragédias do século passado,
o sacrifício de milhões de mortos
nas guerras mundiais.

Descuidamos os compromissos assumidos
como Comunidade das Nações
e estamos a atraiçoar
os sonhos de paz dos povos
e as esperanças dos jovens.

Adoecemos de ganância,
fechamo-nos em interesses nacionalistas,
deixamo-nos ressequir pela indiferença
e paralisar pelo egoísmo.

Preferimos ignorar Deus,
conviver com as nossas falsidades,
alimentar a agressividade,
suprimir vidas e acumular armas,
esquecendo-nos que somos guardiões
do nosso próximo e da própria casa comum.

Dilaceramos com a guerra
o jardim da Terra,
ferimos com o pecado
o coração do nosso Pai,
que nos quer irmãos e irmãs.

Tornamo-nos indiferentes a todos e a tudo, exceto a nós mesmos.
E, com vergonha, dizemos:
perdoai-nos, Senhor!

Na miséria do pecado,
das nossas fadigas e fragilidades,
no mistério de iniquidade do mal e da guerra,
Vós, Mãe Santa,
lembrai-nos que Deus não nos abandona,
mas continua a olhar-nos com amor,
desejoso de nos perdoar
e levantar novamente.

Foi Ele que Vos deu a nós
e colocou no vosso Imaculado Coração
um refúgio para a Igreja e para a humanidade.

Por bondade divina,
estais connosco e conduzis-nos com ternura
mesmo nos transes
mais apertados da história.

Por isso recorremos a Vós,
batemos à porta do vosso Coração,
nós os vossos queridos filhos
que não Vos cansais
de visitar em todo o tempo e convidar à conversão.

Nesta hora escura,
vinde socorrer-nos e consolar-nos.
Repeti a cada um de nós:
«Não estou porventura aqui Eu,
que sou tua mãe?»

Vós sabeis como desfazer os emaranhados do nosso coração
e desatar os nós do nosso tempo.

Repomos a nossa confiança em Vós.
Temos a certeza de que Vós,
especialmente no momento da prova,
não desprezais as nossas súplicas
e vindes em nosso auxílio.

Assim fizestes em Caná da Galileia,
quando apressastes
a hora da intervenção de Jesus
e introduzistes no mundo o seu primeiro sinal.

Quando a festa se mudara em tristeza,
dissestes-Lhe: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3).

Ó Mãe, repeti-o mais uma vez a Deus,
porque hoje esgotamos o vinho da esperança,
desvaneceu-se a alegria,
diluiu-se a fraternidade.
Perdemos a humanidade,
malbaratamos a paz.

Tornamo-nos capazes
de toda a violência e destruição.
Temos necessidade urgente
da vossa intervenção materna.

Por isso acolhei, ó Mãe,
esta nossa súplica:

Vós, Estrela do mar,
não nos deixeis naufragar
na tempestade da guerra;

Vós, arca da nova aliança,
inspirai projetos e caminhos de reconciliação;

Vós, «terra do Céu»,
trazei de volta ao mundo
a concórdia de Deus;

Apagai o ódio,
acalmai a vingança,
ensinai-nos o perdão;
Libertai-nos da guerra,
preservai o mundo da ameaça nuclear;

Rainha do Rosário,
despertai em nós
a necessidade de rezar e amar;

Rainha da família humana,
mostrai aos povos
o caminho da fraternidade;

Rainha da paz,
alcançai a paz para o mundo.

O vosso pranto, ó Mãe,
comova os nossos corações endurecidos.

As lágrimas, que por nós derramastes,
façam reflorescer este vale
que o nosso ódio secou.

E, enquanto o rumor das armas não se cala,
que a vossa oração
nos predisponha para a paz.

As vossas mãos maternas
acariciem quantos sofrem
e fogem sob o peso das bombas.

O vosso abraço materno
console quantos são obrigados
a deixar as suas casas e o seu país.

Que o vosso doloroso Coração
nos mova à compaixão
e estimule a abrir as portas
e cuidar da humanidade
ferida e descartada.

Santa Mãe de Deus,
enquanto estáveis ao pé da cruz,
Jesus, ao ver o discípulo junto de Vós, disse-Vos:
«Eis o teu filho!» (Jo 19, 26).

Assim Vos confiou cada um de nós.
Depois disse ao discípulo,
a cada um de nós:
«Eis a tua mãe!» (19, 27).

Mãe, agora queremos acolher-Vos
na nossa vida e na nossa história.

Nesta hora, a humanidade,
exausta e transtornada,
está ao pé da cruz convosco.

E tem necessidade de se confiar a Vós,
de se consagrar a Cristo por vosso intermédio.

O povo ucraniano e o povo russo,
que Vos veneram com amor,
recorrem a Vós,
enquanto o vosso Coração
palpita por eles
e por todos os povos ceifados pela guerra,
a fome, a injustiça e a miséria.

Por isso nós, ó Mãe de Deus e nossa,
solenemente confiamos
e consagramos ao vosso Imaculado Coração
nós mesmos,
a Igreja e a humanidade inteira,
de modo especial a Rússia e a Ucrânia.

Acolhei este nosso ato
que realizamos com confiança e amor,
fazei que cesse a guerra,
providenciai ao mundo a paz.

O sim que brotou do vosso Coração
abriu as portas da história ao Príncipe da Paz;
confiamos que mais uma vez,
por meio do vosso Coração, virá a paz.

Assim a Vós consagramos
o futuro da família humana inteira,
as necessidades e os anseios dos povos,
as angústias e as esperanças do mundo.

Por vosso intermédio,
derrame-se sobre a Terra
a Misericórdia divina
e o doce palpitar da paz
volte a marcar as nossas jornadas.

Mulher do sim,
sobre Quem desceu o Espírito Santo,
trazei de volta ao nosso meio
a harmonia de Deus.

Dessedentai a aridez do nosso coração,
Vós que «sois fonte viva de esperança».

Tecestes a humanidade para Jesus,
fazei de nós artesãos de comunhão.

Caminhastes pelas nossas estradas,
guiai-nos pelas sendas da paz.

Ámen.

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